É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e suspiro,
de palavra indireta, aviso na esquina.
Tempo de cinco sentidos num só.
(Carlos Drummond de Andrade)
Eu tenho andado um pouco ausente de palavras. Essas formas sólidas de se materializar tudo o que se passa aqui por dentro. Pensariam os sensíveis a minha literatura: mas ele sempre se deu tão bem com a escrita, como pode? Ou então diriam aqueles que pouco sabem sobre o dom de escrever: isso é preguiça, palavra no papel qualquer um dá conta de escrever a qualquer hora. Mas não se faz tudo tão simples quanto parece.
Durante um tempo, não muito distante, as emoções e sentimentos se estouravam aqui dentro e liberavam uma espécie de purpurina colorida que se misturava no meu sangue. Ai então eu escrevia por horas, por dias, semanas... Todos os meus momentos se faziam palavras, nada além de palavras carregadas de intensidade e delicadeza colorida....
Ultimamente tenho ficado mais calado. Muita gente tem reclamado da minha deslealdade com as palavras, com os sons que saem da boca. Mas tenho me sentido tão mais próximo da vida por esses dias. Caio Fernando dizia: “só que nós escritores somos cruéis, estamos sempre matando a vida me troca de histórias...” e penso que por não conseguir tão sensivelmente escrever como antes talvez eu tenha escolhido viver mais.
Descobri como viver é importante; sentir os cheiros, os gostos, olhar estrelas. Tudo além do que as palavras podem descrever. E como tudo tem sido tão profundo, tão intenso, as palavras não me bastam. Penso que o mais puro para descrever emoções e sentimentos talvez sejam apenas os silêncios. A mudez sempre sabe descrever melhor a vida do que a mentira das palavras. Não que eu não esteja me sentindo bem com tudo, pelo contrário, esse meu silêncio e apenas um respeito à intensidade que tudo tem me provocado. Porque eu sei que nem todas as minhas palavras mais bem escritas seriam capaz de descrever o quão bem me faz esse contato com a vida.
Maycoll C.
Um comentário:
"quando a alma conversa consigo mesma, é também com o outro em mim que ela conversa" (benedito nunes)
e eu sei que quando a gente nao conversa pra fora a gente ta conversando pra dentro.
pra mim o silencio é igual um chiclete, ele ocupa sua boca, vc mastiga, faz ele interagir no seu corpo te provoca sabores, mas tem que ser jogado fora, engolir faz mal. e esse texto talvez tenha sido uma cuspida nesse blog que ja carrega tantas coisas consideradas "sujas".
abraço
Lucas
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