sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sugestões para atravessar Agosto

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Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções-úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.
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Caio F. Abreu
Publicado no jornal Estado de São Paulo em 06/Agosto/1995 e no livro ¨Pequenas Epifanias¨

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Frag(senti)mentos

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E agora? O que acontece quando não se tem mais nada com o amor?

Quase ele levou de novo a mão no bolso para pegar o cigarro, onde fumara o último?

- Sopra o vento e a gente vira outra coisa.

- Que coisa?

- Sei lá. Não quero é voltar a ser gente, eu teria que conviver com as pessoas e as pessoas - ele murmurou.

- Queria ser um passarinho, vi um dia um passarinho bem de perto e achei que devia ser simples a vida de um passarinho de penas azuis, os olhinhos lustrosos. Acho que queria ser aquele passarinho.

- Nunca me teria como companheira, nunca. Gosto de mel, acho que quero ser borboleta. É fácil a vida de borboleta?

- E curta.

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(Lygia Facundes Telles)

sábado, 25 de julho de 2009

Dos caminhos que eu não sei

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"Pois é. Mas hoje eu até queria. Como quase nunca quero. Como quase nunca peço. Tentei e insinuei, mas minha força anda fraca. As circunstâncias me laceram e não me apraz esse apanhar, esse perder lugar. Não sei mesmo que caminho seguir. E o pior que nem é nervosismo o que estou sentindo, nem indignação, só paira sobre mim uma nuvem escura de fumaça e dúvida, sensação de perda de tempo, de resignação, até esperança tem me habitado nesses últimos dias. Esperança. Em mim. Irreconhecível. Ou trouxa."

Foi assim delicadamente com esse trecho de Caio F. que eu decidi começar o post. Tudo isso porque hoje ao pegar o jornal me deparo com a notícia de que a faculdade em que eu estudo não terá mais o curso de graduação me jornalismo. Ok, não vou ser um maior abandonado sem faculdade, é claro que quem já esta cursando a graduação vai ter o direito de terminar “tranquilamente” todos os períodos ainda restantes. Mas, o que me perturba é o fato de saber que Sim, a profissão que eu escolhi pra ganhar o meu pão de cada dia vem sendo banalizada e ser jornalista daqui uns dias vai significar quase ou mesma coisa que “nada”. Claro, não acho que tudo se aprende no bando da faculdade, eu mesmo quebrei muito a cara correndo atrás de fontes e mendigando notícias na rua, nas tais ditas “atividades práticas”. Mas mesmo assim dói saber que eu e meus amigos poderemos mesmo ser os últimos daquela universidade a receberem o diploma de comunicólogos.
Há tempos uma idéia de mudar, respirar novos ares, vem me habitando a mente. Com essa decisão da “queda” do meu diploma as últimas semanas foram dark, no mais escuro sentido da tradução. Chegar aqui, no meio de uma faculdade, aos 20 anos e de repente perceber que tudo pros outros vai ser apenas “papel”. Eu confesso que já chorei muito de uns tempos pra cá, por isso tudo. E não tenho vergonha de assim abertamente declarar isso aqui. Acho que isso me faz forte e me mostra que realmente estou certo da profissão que escolhi e do que quero delicadamente pro meu futuro.
Hoje não consigo pensar em mais nada, preciso ficar quieto, pensar quais serão as melhores escolhas e quais caminhos seguir. Só ainda não entendi porque tive de abrir o jornal, logo cedo, me preocupar com as noticias, enquanto o sol vem esquentando lve o dia além da janela e das paredes ainda frias da noite. Como um bom principiante à jornalista me lembrei de uma coisa importante: Nem todo mundo gosta de aparecer no noticiário!

MaycOl C.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

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Ontem quando a noite veio, vi um vagalume perdido no meu jardim.No começo não sabia ao certo se era mesmo um vagalume, ou uma estrela caida do céu.Mas depois de algum tempo observando não tive dúvidas.Ele piscava uma cor amarelo brilhante, uma luz que me cegava os gestos...Não sei explicar ao certo, mas foi algo mágico aquele momento.Hoje quando acordei olhei pro céu e vi que tudo estava mais azul.

MaycOl C.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sentimentos Curtos

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O vento ventania vira
Vira o tempo, noite clareia vira dia
Folha viaja pelo tempo
É o vento!

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Aquele que transforma cor em colorido
e que faz do vento ventania
assim, leve
assim, grande.
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enquanto a poesia concreta não surge, assim
eu venho aqui te deixar palavras minhas de perto
com jeito de quem não quer você perdido de mim.

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sábado, 11 de julho de 2009

Nada melhor pra curtir as férias que um teatro...

Ou então um


Ps: Logo mais venho aqui contar dos espetáculo que vou assistir e da empolgação que ando sentindo.. rs

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

É que nós escritores...

"...nossa necessidade fresca & neurótica de elaborar sofrimentos e rejeições e amarguras e pequenos melodramas cotidianos para depois sentar Atormentado & Solitário para escrever Belos Textos Literários.
O escritor é uma das criaturas mais neuróticas que existem: ele não sabe viver ao vivo, ele vive através de reflexos, espelhos, imagens, palavras. O não-real, o não-palpável. Você me dizia “que diferença entre você e um livro seu”. Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos..."


Caio F.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

FicaDica

Caio Fernando Abreu foi uma das mais importantes figuras da literatura brasileira contemporânea. Jornalista polêmico, intenso, sarcástico e genial em seus escritos, foi grande amigo de Paula Dip, com quem conviveu durante 20 anos e a quem dedicou um conto no seu clássico Morangos mofados. A autora reúne cartas, bilhetes e particularidades que dividiu com o escritor, além de depoimentos de pessoas importantes na vida de Caio, como Cazuza, Ney Matogrosso, entre outros. O resultado é um emocionante relato de quem acompanhou de perto o mundo do “Escritor da Paixão” (como o definiu Lygia Fagundes Telles) até sua morte precoce, aos 47 anos, vítima de aids.

Livro: Para sempre teu, Caio F.
Autor: Paula Dip
Gênero: Biografia/ Memória
Páginas: 504
Preço: R$ 63,00
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Andei pensando coisas...

...o que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O nunca mais de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter nunca mais quem morreu. E dói mais fundo- porque SE PODERIA TER, já que está vivo(a). MAS NÃO SE TEM, NEM SE TERÁ, quando o fim do amor é: Never.

Caio F.