segunda-feira, 15 de novembro de 2010

(poema da sua espera)

não.
não demora muito que a saudade só vai aumentar
e o que vou fazer meu bem quando não der mais pra suportar
ter que ir ai correndo te encontrar.
e então quando eu te ter de novo nos meus braços, te abraçar
não vai ter mais como. nunca mais te deixar!


maycoll c.
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domingo, 18 de julho de 2010

TEMPO

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quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele
soprando sulcos na pele soprando sulcos?

o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)

acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim

e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos…

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando.


Viviane Mose.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

não quero me arriscar a amar
alguém por um bom tempo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

só aqui dentro.

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e a saudade?
essa que ocupa um espaço bem gigante na alma e no corpo.
o resto todo a gente organiza espremento tudo em gavetas,
prateleiras e armários desorganizados.
mas a saudade é grande demais.
ela não cabe em lugar nenhum.
fica espalhada dentro de nós
empoeirando-se ao relento.
ai tudo fica só saudade.
por todo lado.
aqui dentro.


maycOll c.
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segunda-feira, 28 de junho de 2010

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Tudo bem ?
Eu nao vou
Eu vim
E você?
Indo eu vou
Bem ou não
Vou indo
Bem vindo então.


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quarta-feira, 26 de maio de 2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

uma histÓria sem.final

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Era assim o começo.
Um tragava lento e intenso os seus cigarros.
Depois jogava fora a nuvem de fumaça como que brincando com o ar.
Enquanto isso o outro se ensaiava entre palavras e cenas, louco e delicado.
Começo esse que durou desde os convites para filmes de um, recusado algumas vezes por outro até as palavras digitadas dos dois e uma viagem pra distanciar ainda mais o esperar de se encontrar. O correr lento dos minutos virados em horas jogadas em dias flutuados em semanas que fizeram das incertezas uma coisa certa.
Era assim o começar, não bem exatamente o começo, porque o encontro deles dois só foi acontecer mesmo alguns dias depois de se encontrarem.
Eram quase um oposto, atraídos pelo não querer absolutamente nada além do querer. E se permitiram se encontrar e se cruzarem os caminhos. Assim sem querer nada, querendo ao mesmo tempo tudo.
Um alto, branco, da barba por fazer contrastando com o largo e branco sorriso disfarçado. Um outro mais baixo, de sobrancelhas pretas e grossas, de mãos tímidas nos bolsos. Se encaixaram assim, perdidos entre palavras e sorrisos e desejos ocultos no vazio de uma praça escura, no meio de uma noite qualquer de janeiro. E embora fosse apenas também o começo do ano era tarde demais, pensavam os dois. Tarde demais pro amor, tarde demais pra se envolver e se encontrar. Tarde demais pra resistir aquele encontro. Encontro esse que se estendeu por um convite para visitar a casa de um, aceito pelo outro, continuado em um jantar discreto e quase finalizado em toques e carinhos trocados diante de um filme que se passava na TV. Digo quase finalizado porque colocar um fim naquele encontro era praticamente impossível. E assim se encontraram no dia seguinte, e no dia após, e depois. Até um deles teve que se mudar, não tinha mais jeito, eram os planos, analisados e calculados delicadamente por aqueles longos dias solitários sem o outro. O outro entendeu os caminhos e aceitou o esperar. Foram largos, donos de sentimentos ambíguos e de uma certa forma necessários todos aqueles dias sem tocar, porque se viam e se sentiam todos os dias, quase todas as horas pra ser mais exatos.
Um dia falaram em namoro, contrapondo as distancias e as vontade e os medos antigos e os medos novos e tudo mais que poderia de certa forma influenciar para o colorir ou descolorir daquele caminhos que escolhiam percorrer lado a lado.
Foi assim o começo. O resto todo que vem depois vem vindo, os trechos lidos dos livros favoritos de um sonorizado pelas canções favoritas da banda do outro. Os dias doloridos sem se verem, rodeados pela falta que um faz na cama do outro, entendido pelo mau humor do dia a dia, pelas brigas de ciúme bobo, pelas cervejas bebidas e os jogos jogados. Tudo sendo escrito assim, depois do começo.
Tudo assim mesmo, sem ponto final

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maycOll c.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

2ois.

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assim como um mais um são três
os nós se perdem de sermos nós
mas haverá sempre mais uma nova, mais outra vez.

não tem calculo de mais ou de menos
tem só mesmo algo intimo e feroz
o não ter resultado final de quando se tem sentimento.

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maycOll c.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

apenas

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quero acreditar mesmo em qualquer teoria.
ter o teor de ir aonde eu jamais ousaria.
me imaginar colando palavra até rimar poesia.
mas as rimas são apenas teoria.
me desenho em letras do que eu jamais diria.
e qualquer um irá pensar o que quer que seria.
mas afinal não me importaria.
isso é só mesmo poesia.

maycOll c.
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quarta-feira, 12 de maio de 2010

a fins.

a afinidade se afina.
a fina idade se ilumina.
o certo com o incerto se ajeita
mas não tem jeito, não tem hora perfeita.

existe uma relação entre os afins
pode existir continuação ou um ponto de fim.

os afins se exclarecem e se firmam
incertezas certas que magoam e animam.

escritas afins de incertar
entendimentos que não precisam se explicar.


maycoll C.
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quarta-feira, 28 de abril de 2010

tipo verde.

a gente sempre tem mania de achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa, mas no fundo a gente nunca olha pra nossa grama com os mesmos olhos que olhamos pra do vizinho. e a diferença está exatamente ai, não na cor da grama de cada um, mas no jeito de olhar.

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quinta-feira, 18 de março de 2010

simplesmente Blue

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Ela só queria ter um coração azul. De nenhuma outra cor mais a interessava. Verdes, alaranjados, violetas, cinzas, nenhuma dessas cores era desejada agora. Talvez porque já tivesse tentado em outras expectativas desejos de um coração em qualquer uma dessas cores já mencionadas. Ou talvez então por que já tivesse esperado tempos demais até se decidir de vez pelo azul. Anil, Marinho, Royal. Fosse qualquer um desses tipos presentes e classificados dentre os inúmeros tons de azuis, mas fosse um coração azul.
Nesse dia, dia em que se decidiu por um coração azul, acordou cedo, ficou minutos se enrolando no lençol, abraçada ao travesseiro. Talvez numa maneira delicada de adiar nem que por segundos, minutos a fio, aquela decisão. Não era fácil para ela acordar assim dentro de uma quinta-feira suja. Não era mesmo fácil, logo ela uma mulher dita bem resolvida se rebelar assim por uma questão de cor. Mas afinal, seria mesmo tudo isso simplesmente por uma questão de cor? Pensava. Tudo é uma questão de cor. Mas estava mesmo decidida e enfrentaria não importa quem tivesse de ser. Ela teria um coração azul.
Nesse mesmo dia depois de adiar o se levantar acordada por uns minutos se preocupou-se em pisar com o pé direito ao sair da cama. Nunca foi uma dessas mulheres supersticiosas, tão pouco acreditava em Deus, ou qualquer que seja o ser supremo que existisse acima dela mesma. Procura apenas sentir as energias, mas não custava nada se preocupar um dia só com o primeiro pisar do dia. Primeiro pisar que seria esse o único possível de ser planejado. Tomou um banho bem quente, escolheu o vestido mais colorido, penteou solto os cabelos lisos e saiu. Meio sem destino, meio sem saber ao certo como chegar lá, como seguir em frente agora.
Andou pelas ruas sem destino, disputando espaço com os ponteiros do relógio que corriam horas a dentro até chegar sempre no mesmo lugar de antes. Enumerou nos dedos todas as possibilidades de onde, com quem, e como explicar essa vontade insuportável de se ter um coração azul. Eram onze horas e quinze minutos, observou atenta. E não podia mais passar dali. Caminhou até a loja de quadros, entrou, sentiu a sensação das molduras e escolheu a mais dourada, de um tamanho moderadamente grande, com traços medievais de escultura. Foi para casa, pendurou-a com pregos na parece da sala. As paredes talvez inconscientemente eram azuis, um azul tão claro e delicado que era como se ali fosse a sala de espera do paraíso.
Agora só lhe faltava mesmo um coração azul para emoldurar. Mas por um segundo ela caiu em si. Não existe lugares em que se faz possível comprar corações azuis. Ainda mais nos dias de hoje, em que todo mundo não dá a mínima pra corações azuis. Talvez fosse possível pintar o seu próprio coração, mas ele já não estava tão forte assim para passar por um reforma. Todas as dores, e as tempestades, e os amores não resolvidos, acumulados, seu coração era daqueles que já não bate nem apanha mais.
Era infeliz agora. Não via a possibilidade de ser mais feliz sem um coração azul. Como num ritual, como numa forma de se culpar por não conseguir, todos os dias ela ao acordar se sentava no sofá da sala bem em frente a moldura dourada. Observava. E era como se uma fizesse companhia a outra, ambas varias por dentro, à espera de um coração azul. À espera de alguma coisa que as preenchesse por inteiro. À espera de encontrar a si mesmas.


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maycoll C.

terça-feira, 16 de março de 2010

barbeÀdor

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É difícil ficar adulto. Ele pensou olhando fixamente dentro dos seus próprios olhos refletidos no espelho do banheiro. E doloroso também, embora seja necessário ficar adulto. Continuou pensando. A barba por fazer fazia do colorido preto dos pelos um ar meio despreocupado de si mesmo. Ele nunca acreditou muito na sua própria beleza. A beleza sempre vem de uma vez. Refletiu. Era preciso encarar tudo com a consciência e o entendimento de quem há tempos não é mais criança, nem tão pouco a pouco tempo um pré ou adolescente maduro.
Os olhos continuavam os mesmos. Miúdos, mas gigantes na profundidade em que se faziam o lançar de olhares. A boca larga também era a mesma de sempre. Os dentes não, esses tiveram de ser forçadamente modificados e clareados e corrigidos pra se encaixarem em um modelo de sorriso mais confortável. Agora eram ainda grandes e brancos e faziam um contraste gigantesco, pelo menos agora, ali diante do espelho, naquele encontro entre ele e ele mesmo.
O grande medo dele talvez fosse o de se perder em si mesmo. Cair em um buraco negro, aberto dentro de si mesmo, dentro daquilo que ele mesmo não sabia definir, fora de tudo que ele já havia sentido ou vivido ou imaginado para si. Cair em si mesmo. Porque a gente nunca sabe até quando tudo vai durar. Ele se encarava concentrado em entender. Até quando dura a infância? Respostas, respostas. Ele se perdia entre tantas perguntas jogadas pela pia do banheiro abaixo. Os canos se entupiriam sem respostas certas, esgotados de si mesmo, cheios de uma vida indefinida por imagens modificadas. Olhar-se no espelho nunca tinha sido tão doloroso.
Um. Dois. Três. Quatro. Quatro milhões de dúvidas, quatro vezes se fosse necessário.Respirou fundo. Apertou firme a gilete com uma das mãos, o pulso firme, quase dolorido de se sentir em pulsação. É hora de abrir a janela de dentro, deixar entrar novos ventos, tirar a poeira que com o tempo se deixou acumular pelos cantos. Sorriu, mesmo tendo medo, sorriu largo, sorriu limpo. Ensaboou o rosto com a mão que estava livre. Sentindo o sabão fazer espuma, os pelôs crescidos ali, entre queixo, pescoço e maçã do rosto. Sentindo a si mesmo, em um ritual que ele sabia que a partir de agora se repetiria quase que diariamente. Se olhou firme, fixo, decidido de si. Leve e doce. Se barbeou.



Maycoll c.
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Respirar-se

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Olhou no calendário como que para confirmar o que estava sentindo. Os dias delicadamente organizados em fileiras, que se repetiam numa maneira delicada de estampar a rotina do cotidiano. Aquele era o final, pensou ele. E antes mesmo fosse apenas sonho, mas não. Faltavam poucos os dias para que aquele ano começasse a ser apenas uma lembrança, hora doce, hora acida demais na memória. Fechou os olhos e pensou com carinho naquele outro alguém que estava distante. Respirar, era essa a forma com que encontraram os dois para constantemente conseguirem eliminar aquela falta insegura de alguma coisa que parecia sem forma, nem cor, nem gosto quando estavam longe um do outro. Na boca um gosto qualquer se dissolvia, em meio aqueles tantos gostos já provados por ele, um inventor de sabores. Agora o que importava era aquele outro e aquela história que começava a ser rascunhada, todas as palavras e os gestos que começavam a preencher aquele vazio branco. Era isso que importava agora.

O encontro, não o real, porque esse ainda estava sendo ansiosamente esperado, aconteceu sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada. Nada além de talvez no máximo 140 caracteres digitados sobre qualquer coisa em uma dessas febres modernetes que cada dia ficam ultrapassadas pelo novo. Mas a gente sempre sabe quando encontra alguém diferente desses tantos outros alguéns. Se acreditassem os dois, diriam sorridentes que isso foi apenas uma questão de sorte. Mas não era sorte aquilo, isso, aquele encontro de opiniões era como o caminho correto a seguir. Bem-me-quer, mal-me-quer. Estavam certos que eram os únicos de uma geração inteira que ainda desejavam e acreditavam nesse sentimento já tão banal, que chamavam, da boca pra fora, os outros todos de Amor. E por isso se completavam.
Depois do encontro ambos expiravam para respirarem-se mutuamente, um ao outro. E trocavam felizes telefonemas inesperados, e mensagens de texto, durante tardes e noites. Enquanto um esperava pelo outro insuportavelmente felizes, se imaginavam perto e só queriam que esse perto se diminuísse cada vez mais em distancias. ‘That without you my sun doesn't shine’ cantava um em silencio, acompanhando o embalo da melodia doce de um diva americana, enquanto o outro ensaiava peças de teatro na busca de um personagem tão intenso quanto aquilo que sentia agora. Passavam assim os dias agora, ligados em si mesmo.

Era isso que importava agora, se repetiu ele, olhando agora praquele novo calendário cheio de fotos e expressões marcados pelo outro. Um presente cotidiano que agora podia ser compartilhado, desde as rimas até os sabores e os chás, e os objetos favoritos, os sentimentos. Expirou e respirou tão profundamente num só segundo, como se fosse mesmo possível em um único gesto eliminar todo a indicio sujo de saudade que começasse a surgir ali. Olhou novamente o novo calendário como que para confirmar, num gesto já repetido antes. Aquele era apenas o começo, pensou ao fechar os olhos. Tudo estava apenas começando, embora ao mesmo tempo tudo terminaria dali poucos dias. E nessa loucura em que se faziam as emoções encontradas com os sentimentos ele respirava, e respirava, e respirava, até o ar enchesse de coisas boas os pulmões, o coração, respirava, respirava, respirava.


Maycoll c.
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