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Ela só queria ter um coração azul. De nenhuma outra cor mais a interessava. Verdes, alaranjados, violetas, cinzas, nenhuma dessas cores era desejada agora. Talvez porque já tivesse tentado em outras expectativas desejos de um coração em qualquer uma dessas cores já mencionadas. Ou talvez então por que já tivesse esperado tempos demais até se decidir de vez pelo azul. Anil, Marinho, Royal. Fosse qualquer um desses tipos presentes e classificados dentre os inúmeros tons de azuis, mas fosse um coração azul.
Nesse dia, dia em que se decidiu por um coração azul, acordou cedo, ficou minutos se enrolando no lençol, abraçada ao travesseiro. Talvez numa maneira delicada de adiar nem que por segundos, minutos a fio, aquela decisão. Não era fácil para ela acordar assim dentro de uma quinta-feira suja. Não era mesmo fácil, logo ela uma mulher dita bem resolvida se rebelar assim por uma questão de cor. Mas afinal, seria mesmo tudo isso simplesmente por uma questão de cor? Pensava. Tudo é uma questão de cor. Mas estava mesmo decidida e enfrentaria não importa quem tivesse de ser. Ela teria um coração azul.
Nesse mesmo dia depois de adiar o se levantar acordada por uns minutos se preocupou-se em pisar com o pé direito ao sair da cama. Nunca foi uma dessas mulheres supersticiosas, tão pouco acreditava em Deus, ou qualquer que seja o ser supremo que existisse acima dela mesma. Procura apenas sentir as energias, mas não custava nada se preocupar um dia só com o primeiro pisar do dia. Primeiro pisar que seria esse o único possível de ser planejado. Tomou um banho bem quente, escolheu o vestido mais colorido, penteou solto os cabelos lisos e saiu. Meio sem destino, meio sem saber ao certo como chegar lá, como seguir em frente agora.
Andou pelas ruas sem destino, disputando espaço com os ponteiros do relógio que corriam horas a dentro até chegar sempre no mesmo lugar de antes. Enumerou nos dedos todas as possibilidades de onde, com quem, e como explicar essa vontade insuportável de se ter um coração azul. Eram onze horas e quinze minutos, observou atenta. E não podia mais passar dali. Caminhou até a loja de quadros, entrou, sentiu a sensação das molduras e escolheu a mais dourada, de um tamanho moderadamente grande, com traços medievais de escultura. Foi para casa, pendurou-a com pregos na parece da sala. As paredes talvez inconscientemente eram azuis, um azul tão claro e delicado que era como se ali fosse a sala de espera do paraíso.
Agora só lhe faltava mesmo um coração azul para emoldurar. Mas por um segundo ela caiu em si. Não existe lugares em que se faz possível comprar corações azuis. Ainda mais nos dias de hoje, em que todo mundo não dá a mínima pra corações azuis. Talvez fosse possível pintar o seu próprio coração, mas ele já não estava tão forte assim para passar por um reforma. Todas as dores, e as tempestades, e os amores não resolvidos, acumulados, seu coração era daqueles que já não bate nem apanha mais.
Era infeliz agora. Não via a possibilidade de ser mais feliz sem um coração azul. Como num ritual, como numa forma de se culpar por não conseguir, todos os dias ela ao acordar se sentava no sofá da sala bem em frente a moldura dourada. Observava. E era como se uma fizesse companhia a outra, ambas varias por dentro, à espera de um coração azul. À espera de alguma coisa que as preenchesse por inteiro. À espera de encontrar a si mesmas.
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maycoll C.
Ela só queria ter um coração azul. De nenhuma outra cor mais a interessava. Verdes, alaranjados, violetas, cinzas, nenhuma dessas cores era desejada agora. Talvez porque já tivesse tentado em outras expectativas desejos de um coração em qualquer uma dessas cores já mencionadas. Ou talvez então por que já tivesse esperado tempos demais até se decidir de vez pelo azul. Anil, Marinho, Royal. Fosse qualquer um desses tipos presentes e classificados dentre os inúmeros tons de azuis, mas fosse um coração azul.
Nesse dia, dia em que se decidiu por um coração azul, acordou cedo, ficou minutos se enrolando no lençol, abraçada ao travesseiro. Talvez numa maneira delicada de adiar nem que por segundos, minutos a fio, aquela decisão. Não era fácil para ela acordar assim dentro de uma quinta-feira suja. Não era mesmo fácil, logo ela uma mulher dita bem resolvida se rebelar assim por uma questão de cor. Mas afinal, seria mesmo tudo isso simplesmente por uma questão de cor? Pensava. Tudo é uma questão de cor. Mas estava mesmo decidida e enfrentaria não importa quem tivesse de ser. Ela teria um coração azul.
Nesse mesmo dia depois de adiar o se levantar acordada por uns minutos se preocupou-se em pisar com o pé direito ao sair da cama. Nunca foi uma dessas mulheres supersticiosas, tão pouco acreditava em Deus, ou qualquer que seja o ser supremo que existisse acima dela mesma. Procura apenas sentir as energias, mas não custava nada se preocupar um dia só com o primeiro pisar do dia. Primeiro pisar que seria esse o único possível de ser planejado. Tomou um banho bem quente, escolheu o vestido mais colorido, penteou solto os cabelos lisos e saiu. Meio sem destino, meio sem saber ao certo como chegar lá, como seguir em frente agora.
Andou pelas ruas sem destino, disputando espaço com os ponteiros do relógio que corriam horas a dentro até chegar sempre no mesmo lugar de antes. Enumerou nos dedos todas as possibilidades de onde, com quem, e como explicar essa vontade insuportável de se ter um coração azul. Eram onze horas e quinze minutos, observou atenta. E não podia mais passar dali. Caminhou até a loja de quadros, entrou, sentiu a sensação das molduras e escolheu a mais dourada, de um tamanho moderadamente grande, com traços medievais de escultura. Foi para casa, pendurou-a com pregos na parece da sala. As paredes talvez inconscientemente eram azuis, um azul tão claro e delicado que era como se ali fosse a sala de espera do paraíso.
Agora só lhe faltava mesmo um coração azul para emoldurar. Mas por um segundo ela caiu em si. Não existe lugares em que se faz possível comprar corações azuis. Ainda mais nos dias de hoje, em que todo mundo não dá a mínima pra corações azuis. Talvez fosse possível pintar o seu próprio coração, mas ele já não estava tão forte assim para passar por um reforma. Todas as dores, e as tempestades, e os amores não resolvidos, acumulados, seu coração era daqueles que já não bate nem apanha mais.
Era infeliz agora. Não via a possibilidade de ser mais feliz sem um coração azul. Como num ritual, como numa forma de se culpar por não conseguir, todos os dias ela ao acordar se sentava no sofá da sala bem em frente a moldura dourada. Observava. E era como se uma fizesse companhia a outra, ambas varias por dentro, à espera de um coração azul. À espera de alguma coisa que as preenchesse por inteiro. À espera de encontrar a si mesmas.
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maycoll C.
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