sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

pra poder d-escreve-lo.

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Complexo, ele se olhou no espelho.
via nele milhares de possibilidades, de seres.
Por fora a beleza comum aos olhos alheios,
Por dentro um coração encharcado de sentimentos ambíguos.
Ele se tocava e o espelho se partia em mil, em muitos dele.
Como que se o de dentro tivesse num estalar de dedos saído pra fora.
Percebeu que tudo estava mudando, não era mais possível colar pedaços.
Estava ficando adulto, essa era sua verdade.
O que ficava agora era apenas a moldura na parede.


Como pra disfarçar os sentimentos, ele dançava
Às vezes confuso, também se arriscava a pintar paredes
Rascunhar palavras perdidas em papeis esbranquiçados
Se sentia o príncipe do seu próprio planeta inventado
E era único, nas cores, nos olhares, no jeito despojado de tragar.
Homem dos olhos profundos, cheio de saudade do menino que ainda era.


- Eu preciso me plantar, eu sei! - Ele pensou ao fechar os olhos, enquanto o sol brilhava em uma tarde qualquer de primavera. Os pés descalços sobre a terra úmida e vermelha, como que pra criar raízes, ali mesmo, naquele pequeno espaço de terra, quadriculado em mínimos centímetros, bem no meio de uma cidade inteira de prédios, e buzinas e nuvens poluídas. Era preciso se segurar ali, mesmo que o tempo se fizesse inconstante, hora muitas chuvas, hora secas incontroláveis. Pra ele que sempre tinha sido passarinho, desse belos, de asas coloridas, de grandes vôos, era difícil assim, de uma hora pra outra ter de se criar raízes. Era preciso se preencher de alguma coisa. Como ficariam agora os países distantes sem que ele os visitasse, trazido pelos ventos? Ventos esses que sempre por mais que mudassem constantes de direção, sabiam sempre o caminho certo para indicá-lo. Era preciso aceitar que ele não era mais menino, não podia mais brincar com ventos. Era tempo de se decidir, de se deixar crescer, até o momento exato em que os frutos sadios brotariam dos galhos, e sem que ninguém os recolhesse cairiam podres no chão. Talvez era apenas medo o que ele sentia, talvez só lhe restava mesmo in-ventar.

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2 comentários:

Unknown disse...

Por um momento, me vi descrito nesse seu texto. Adorei :)

Reds disse...

adoro Caio, ele é como navalha perfumada. profundo e inebriante.
Legal blog