segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Por todos os segundos de agosto

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Eu deveria cantar, mas por não entender bem de tons, notas musicais e melodia, me cabe apenas escrever ou colorir! - Pensou ele enquanto o céu ficava branco, era agosto e embora o dia anterior não tivesse sido de primeira, também era segunda, e segunda todo mundo sabe como é. As sentimentalidades do final de semana se derramando lentas, gosmentas, tédio açucarado no café pra curar os amores não correspondidos e as lágrimas não salgadas de pó que ele não chorou nunca mais por alguém, ou por ninguém.
Agosto era pra ele um mês de bom gosto, embora o único gosto que ainda predominava na sua boca larga era o do café, tomado com gosto, naquela tarde de inverno quente. Faltava poucos dias para que ele completasse 25 anos, para ser mais exato faltava de fato nove ou dez dias. Ele nunca foi muito de contas, números, só lhe interessava mesmo a música, a literatura e o colorido, o colorir. Por isso também já nem acumulava muitos sonhos.
Ligou o som, pegou giz de cera e papel em branco na gaveta, se sentou. Até arriscou cantarolar uma ou duas palavras, que depois se fizeram frases. Não tinha inspiração para começar assim delicadamente a rasgar o branco do papel com qualquer pingo que fosse de cor ou grafite escrito. Observou os lápis, as cores, o papel que gritava por uma cicatriz qualquer que fosse. Qualquer sentimento pra sujar o branco, qualquer coisa que o livra-se daquela solidão de ser papel sem pauta.

Papel em branco
faço poesia para te modificar
Solidão que não existe
Cor que modifica, vem cicatriz-ar
Pra tudo ser diferente poesia não resiste
Vento de poeira colorida, cantar!
 
Ele rabiscou intenso a poesia no papel, pegou dos lápis a cor e começou a colorir. Coloriu todos os espaços em branco do papel e de todos aqueles sentimentos em branco que ainda habitavam o seu corpo, frio, remoto. Nas paredes da casa foram surgindo desenhos abstratos, concretos de cor, tudo ali era poesia que por mágica, mágia, poderia virar canção. Ele cobria os espaços, os cantos, chãos e tetos, pedaços. A noite veio caindo do calor ao frio, enquanto isso as janelas sopravam as cortinas a bailar, cheiro de vida nova, de obra de arte.
Os muros todos gritavam cores não escolhidas, desenhos não revelados, canto, palavra, sexo, sorriso. Tudo era misturado, sem ordem, sem nexo. Agosto, agora tudo tinha além do café amargo um novo gosto. Ele olhou o pó de giz espalhado pelos cantos, as paredes coloridas, as folhas em branco e pensou - Eu seria capaz de escrever uma poesia por segundo pelo resto das horas que ainda faltam pra terminar o mês!

Maycol C.
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2 comentários:

Murilo de Carvalho disse...

Agosto. Ou a gosto!?
Essa é a intensidade do colorir. Do evitar deixar espaço em brancos.
Ou ainda, do deixar espaços que desejamos que sejam brancos.
A importância maior não está no colorir, mas como e onde o fazer.
Faça. Entretanto, pense antes.
Dessa forma, faça sem medo. Sem dúvidas.
Assim, os brancos e os com cor são muito mais representativos que o simples ato de colorir, ou branquear.

Cah disse...

permitir que exista cor, às vezes é mais importante realçar a cor do que já temos! Ou então, descobrir novas cores a serem realçadas (:
Ótimo blog!